domingo, 29 de março de 2009

Deus não é bom. Ele é justo!

Lembro-me como se fosse hoje.
Há dez anos, mais ou menos, fui estudar em Jerusalém com Madame Colette Alboulker, na verdade, o ser que inspirou estudantes a usar a imaginação como uma forma de atingir as imagens que a mente arquiva para qualificar emoções. Ela criou a técnica que depois foi aperfeiçoada e usada por seus alunos.

Madame Colette era uma mulher forte e direta, sem trejeitos românticos ou excessivamente femininos.
Poderia até passar uma primeira impressão de ser arrogante.
Nas primeiras aulas que tive com ela, confesso que fiquei com vontade de voltar para minha terra natal.
Obriguei-me muitas vezes a olhar além do gesto e encontrar na sua alma uma bondade e candura de tocar o coração.

Num dia, no final da aula, dirigi-me a ela e coloquei uma questão que me desesperava, uma vez que estávamos em companhia de seres que falavam o tempo todo em atingir Deus sem conexões. Diálogo franco e direto com o Criador.

Perguntei, então, a ela porque Deus, que era um Ser tão bom e aberto ao diálogo com seus fiéis, permitia que a guerra fosse tão cruel e violenta naquela parte do mundo onde seu filho nasceu, cresceu e morreu.

Madame Collette descruzou os braços que apertavam seu estômago e falou num só fôlego:
- Deus não é bom. Deus é justo!
Esta resposta dada, assim, como uma baforada de neve vinda dos Himalaias, atingiu em cheio os laços das minhas crenças desatando o elo que me ligava à Igreja Católica.

Relembrei o confessionário das igrejas onde o fiel contava todos os seus pecados e, do outro lado da parede frágil de madeira, um homem em batinas perdoava em nome de Deus; prescrevia algumas penitências e despachava o cristão para seu rosário de penas.
E a gente voltava na semana seguinte com os mesmos pecados que eram perdoados e assim por diante. Que Deus bonzinho a gente aprendeu a amar!

Mas, em Jerusalém, me foi dito assim à queima roupa que Deus - que, até então, para mim tudo via e provia -- não era bom - era justo?
Confesso que fiquei muito abalada com isso. Foi como se uma ventania destelhasse meu couro cabeludo e um furacão rodasse todas as minhas células no sentido contrário ao do relógio.

Bem, o tempo passou e comecei a pensar profundamente na frase da Madame Colette que pouco a pouco fui assimilando, encontrando sentido, praticando e, finalmente, incorporando à minha existência.

Hoje, no café da manhã, uma amiga conta que seu sobrinho vai casar com a namorada de alguns anos que sabemos não gosta muito dele.
Os dois estão com muitas dificuldades financeiras e este tema tem sido a engrenagem que mais atrapalha na corrente do relacionamento.
Minha amiga, continuando a conversa, conta que os dois conseguiram mobilizar todos da família, amealharam as poupanças dos mais velhos e, por fim, fecharam as contas para pagar uma festa de arromba para 200 pessoas num bufê logo ali no bairro mais caro da cidade.

Depois, com o que conseguiram pegar emprestado do banco, vão esquiar no Chile, conhecer o Peru e talvez girar pela Bolívia numa viagem tipo adventure.

Comentei com minha amiga que talvez esse não fosse o momento para tais extravagâncias, uma vez que precisamos guardar as economias para o que possa acontecer nos próximos meses.
Uma questão de bom senso... pensei com meus botões.

Ao que ela responder num só fôlego:
- Imagina, minha cara, Deus tudo provê com sua infinita bondade. Nada há de faltar aos dois. Para que pensar no dia seguinte se o futuro a Deus pertence?
Calada, imaginei a Madame Colette respondendo a esta frase.
Mas ela já não mora em Jerusalém. Mudou-se para o céu e espero bem que Deus esteja sendo justo com ela.

Izabel Telles é terapeuta holística e sensitiva formada pelo American Institute for Mental Imagery de Nova Iorque. Tem três livros publicados: "O outro lado da alma", pela Axis Mundi, "Feche os olhos e veja" e "O livro das transformações" pela Editora Agora.

domingo, 22 de março de 2009

O problema não é o problema

Resiliência
Por Tom Coelho

“O problema não é o problema.
O problema é sua atitude com relação ao problema.”
(Kelly Young)

Hoje a tristeza me visitou. Tocou a campainha, subiu as escadas, bateu à porta e entrou. Não ofereci resistência. Houve um tempo em que eu fazia o impossível para evitar que ela adentrasse os meus domínios. E quando isso acontecia, discutíamos demoradamente. Era uma experiência desgastante.
Aprendi que o melhor a fazer é deixá-la seguir seu curso. Agora, sequer dialogamos. Ela entra, senta-se na sala de estar, sirvo-lhe uma bebida qualquer, apresento-lhe a televisão e a esqueço! Quando me dou por conta, o recinto está vazio. Ela partiu, sem arroubos e sem deixar rastros. Cumpriu sua missão sem afetar minha vida.

Hoje a doença também me visitou. Mas esta tem outros métodos. E outros propósitos. Chegou sem pedir licença, invadindo o ambiente. Instalou-se em minha garganta e foi ter com minhas amígdalas. A prescrição é sempre a mesma: amoxicilina e paracetamol. Faço uso destes medicamentos e sinto-me absolutamente prostrado. Acho que é por isso que os chamam de antibióticos. Porque são contra a vida. Não apenas a vida de bactérias e vírus, mas toda e qualquer vida...

Hoje problemas do passado também me visitaram. Não vieram pelo telefone porque palavras pronunciadas ativam as emoções apenas no momento e depois perdem-se, difusas, levadas pela brisa. Vieram pelo correio, impressos em papel e letras de baixa qualidade, anunciando sua perenidade, sua condição de fantasmas eternos até que sejam exorcizados.

Diante deste quadro, não há como deixar de sentir-se apequenado nestes momentos. O mundo ao redor parece conspirar contra o bem, a estabilidade e o equilíbrio que tanto se persegue. O desânimo comparece estampado em ombros arqueados e olhos sem brilho, que pedem para derramar lágrimas de alívio. Então, choro. E o faço porque Maurice Druon ensinou-me, através de seu inocente Tistu, que se você não chora, as lágrimas endurecem no peito e o coração fica duro.

Limão e Limonada
As Ciências Humanas estão sempre tomando emprestado das Exatas, termos e conceitos. A última novidade vem da Física e atende pelo nome de resiliência. Significa resistência ao choque ou a propriedade pela qual a energia potencial armazenada em um corpo deformado é devolvida quando cessa a tensão incidente sobre o mesmo.

Em Humanas, a resiliência passou a designar a capacidade de se resistir flexivelmente à adversidade, utilizando-a para o desenvolvimento pessoal, profissional e social. Traduzindo isso através de um dito popular, é fazer de cada limão, ou seja, de cada contrariedade que a vida nos apresenta, uma limonada, saborosa, refrescante e agradável.

Aprendi que não adianta brigar com problemas. É preciso enfrentá-los para não ser destruído por eles, resolvendo-os. E rapidamente, de maneira certa ou errada. Problemas são como bebês, só crescem se forem alimentados. Muitos deles resolvem-se por si mesmos. Mas quando você os soluciona de forma inadequada eles voltam, dão-lhe uma rasteira e, aí sim, você os anula corretamente.
A felicidade pontuou Michael Jansen, não é a ausência de problemas. A ausência de problemas é o tédio. A felicidade é quando grandes problemas são bem administrados.

Aprendi a combater as doenças. As do corpo e as da mente. Percebê-las, identificá-las, respeitá-las e aniquilá-las. Muitas decorrem não do que nos falta, mas do mal uso que fazemos do que temos. E a velocidade é tudo neste combate. Agir rápido é a palavra de ordem. Melhor do que ser preventivo é ser preditivo.

Aprendi a aceitar a tristeza. Não o ano todo, mas apenas um dia, à luz dos ensinamentos de Victor Hugo. O poeta dizia que “tristeza não tem fim, felicidade sim”. Porém, discordo. Penso que os dois são finitos. E cíclicos. O segredo é contemplar as pequenas alegrias ao invés de aguardar a grande felicidade. Uma alegria destrói cem tristezas...

Modismo ou não, tornei-me resiliente. A palavra em si pode cair no ostracismo, mas terá servido para ilustrar minha atitude cultivada ao longo dos anos diante das dificuldades, impostas ou auto-impostas, que enfrentei pelo caminho, transformando desânimo em persistência, descrédito em esperança, obstáculos em oportunidades, tristeza em alegria.
Nós apreciamos o calor porque já sentimos o frio. Apreciamos a luz porque já estivemos no escuro. Apreciamos a saúde porque já fomos enfermos.

Podemos, pois, experimentar a felicidade porque já conhecemos a tristeza. Olhe para o céu, agora! Se for dia, o sol brilha e aquece. Se for noite, a lua ilumina e abraça. E assim será novamente amanhã. E assim é feita a vida.


FONTE: http://www.cnd.com.br

segunda-feira, 9 de março de 2009

O CONTRÁRIO DO AMOR

O contrário de bonito é feio, de rico é pobre, de preto é branco, isso se aprende antes de entrar na escola. Se você fizer uma enquete entre as crianças, ouvirá também que o contrário do amor é o ódio. Elas estão erradas. Faça uma enquete entre adultos e descubra a resposta certa: o contrário do amor não é o ódio, é a indiferença.

O que seria preferível, que a pessoa que você ama passasse a lhe odiar, ou que lhe fosse totalmente indiferente? Que perdesse o sono imaginando maneiras de fazer você se dar mal ou que dormisse feito um anjo a noite inteira, esquecido por completo da sua existência? O ódio é também uma maneira de se estar com alguém. Já a indiferença não aceita declarações ou reclamações: seu nome não consta mais do cadastro.

Para odiar alguém, precisamos reconhecer que esse alguém existe e que nos provoca sensações, por piores que sejam. Para odiar alguém, precisamos de um coração, ainda que frio, e raciocínio, ainda que doente. Para odiar alguém gastamos energia, neurônios e tempo. Odiar nos dá fios brancos no cabelo, rugas pela face e angústia no peito. Para odiar, necessitamos do objeto do ódio, necessitamos dele nem que seja para dedicar-lhe nosso rancor, nossa ira, nossa pouca sabedoria para entendê-lo e pouco humor para aturá-lo. O ódio, se tivesse uma cor, seria vermelho, tal qual a cor do amor.

Já para sermos indiferentes a alguém, precisamos do quê? De coisa alguma. A pessoa em questão pode saltar de bung-jump, assistir aula de fraque, ganhar um Oscar ou uma prisão perpétua, estamos nem aí. Não julgamos seus atos, não observamos seus modos, não testemunhamos sua existência. Ela não nos exige olhos, boca, coração, cérebro: nosso corpo ignora sua presença, e muito menos se dá conta de sua ausência. Não temos o número do telefone das pessoas para quem não ligamos. A indiferença, se tivesse uma cor, seria cor da água, cor do ar, cor de nada.

Uma criança nunca experimentou essa sensação: ou ela é muito amada, ou criticada pelo que apronta. Uma criança está sempre em uma das pontas da gangorra, adoração ou queixas, mas nunca é ignorada. Só bem mais tarde, quando necessitar de uma atenção que não seja materna ou paterna, é que descobrirá que o amor e o ódio habitam o mesmo universo, enquanto que a indiferença é um exílio no deserto.

Martha Medeiros


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