quinta-feira, 12 de junho de 2008

A SÍNDROME DA LOJA DE DOCES

"A síndrome da loja de doces acaba com a sua felicidade"
Frase de Young Bravescotch

No momento em que escrevo, estamos na semana "dos namorados", no Brasil. Então, acho interessante responder algumas dúvidas que sempre me chegam, sobre o tema do relacionamento entre duas pessoas.

A resposta surgiu durante um evento especial com Rosana Braga (www.rosanabraga.com.br).


Por que temos tamanha dificuldade em manter o compromisso de amor com uma única pessoa por longos períodos?

Escutei a pergunta e as várias tentativas de respostas naquele evento. Algumas interessantes. Outras, completamente absurdas.

A mesa estava completa. Apenas dois homens (eu e um ator muito conhecido) e dez ou onze mulheres. Em um lado da mesa, estava a autora e palestrante Rosana Braga, que atuava como facilitadora, para que aquele grupo chegasse sozinho as próprias conclusões.


Era um encontro no qual Rosana coloca um tema para discussão e vai acompanhando o grupo para que não se percam. Mas ela não interfere, nas conclusões do grupo.

Eu fui convidado por apresentar um workshop, com ela, e poderia captar algo interessante durante o encontro. E foi o que aconteceu.

Durante certo tempo, escutei constrangido opiniões sem nenhum sentido, cheias das obviedades que escutamos todos os dias - do tipo "homem é tudo igual", "o amor é uma ilusão", "eu sou livre e quero permanecer livre", a pessoa que me quiser terá que me aceitar exatamente como eu sou"... e um amontoado de curiosos lugares-comuns.

Eu já estava começando a achar que não havia muito que aprender ali até que uma moça disse de maneira bastante clara: "o problema do amor é a síndrome da loja de doces".
Minha atenção foi chamada imediatamente. E a atenção do grupo todo.

Síndrome da loja de doces? "O que é isso", perguntei?
E durante quase 30 minutos o grupo se envolveu em um acalorado e interessante debate, até que algumas coisas ficaram muito claras:

1. Por que namoros, casamentos e vidas de um casal têm duração estatisticamente muito mais longa no interior (de qualquer país) do que nas capitais?


2. Por que algumas pessoas têm tamanha dificuldade em manter relacionamentos consistentemente longos?


3. Por que parece haver sempre alguém "mais perfeito" para nós? - especialmente alguém diferente da pessoa com a qual estamos?


Estas e inúmeras outras questões podem ser respondidas simplesmente analisando a "síndrome da loja de doces".

Veja que interessante:
Quando entramos em uma loja de doces, imediatamente nossa atenção é chamada para... o primeiro doce que aparece. Então damos uma bela olhada na vitrine e um dos doces chama nossa atenção. Depois de alguns segundos, outro doce, de aparência igualmente deliciosa, também chama nossa atenção. Mesmo quando estamos já na metade do primeiro doce, os olhos continuam a olhar as vitrines. E a dúvida surge. Não seria melhor ter escolhido aquele outro? Parece mais gostoso. Parece melhor para minha saúde. Parece... perfeito para mim agora. Neste momento, alguns de nós simplesmente pensam: "se eu entrar aqui outra vez, escolherei aquele doce para experimentar". Outros testam o segundo doce, mesmo antes de terminar o primeiro. Há, ainda, os que -- enquanto estão no segundo doce - já começam a olhar para o terceiro...

Já deu para entender, não é?
A única coisa pior do que não ter opções é ter opções demais. Isso explica a síndrome de excesso de peso nas populações de regiões economicamente melhores, assim como explica o excesso de divórcios, separações e lágrimas nas regiões supostamente mais “modernas”.

Sempre há um doce melhor na loja. Testar todos os doces é o melhor modo de não ficar com nenhum muito tempo.
Por isso, você precisa entender que nunca vai encontrar alguém que seja superior em tudo. Todos nós somos superiores em determinadas áreas da vida, mas sempre haverá alguém melhor que nós, em algum lugar. Sempre. Um homem ou mulher mais saudável, com mais riquezas, mais beleza, mais sensibilidade e mais qualquer coisa que você pense.

Não importa o que esteja em sua cabeça agora, sempre haverá alguém que tenha pelo menos uma dessas características em maior grau.


Mas há um problema. Raramente uma característica mantém o relacionamento e o compromisso por muito tempo. São necessárias diversas características complementares e o compromisso de ficar com essas características mesmo quando surge alguém que seja superior em uma, ou algumas, delas.
Porque se você cair no golpe que a publicidade adora dar nas pessoas, vai achar que o importante é testar os doces, para escolher o melhor. Enquanto isso, o melhor vai azedar e você acabara perdendo-o.

A vida não é uma loja de doces. E, se for, lembre-se de que quem tudo quer, tudo perde.

Escolha o doce e pare de comparar o tempo todo com outros. A comparação deve acontecer antes da escolha, com muito cuidado. Quem compara, depois, sempre sente que está perdendo algo. Quem sente isso, se comporta para deixar de perder e, ironicamente, acaba perdendo algo ainda melhor.


Feliz dia dos namorados. E bom doce, para você.


Aldo Novak

autor do livro O Segredo Para Realizar Seus Sonhos, da editora Ediouro (http://www.OSegredoParaSeusSonhos.com.br/ )

quinta-feira, 5 de junho de 2008

ELOGIO AOS IDIOTAS

A idiotice tem várias facetas. Há espertalhões, por exemplo, que para não serem considerados burros aplaudem o que não entendem e há pessoas geniais – como Eistein – que passam por idiotas. A verdade é que os idiotas, como os sábios, tentam sempre, sem medo de errar.

Na vida acelerada do mundo de hoje, todos querem ser espertos, vivos e astuciosos. Ninguém quer ficar para trás – quando você está indo, os outros já estão voltando. Ninguém mais diz frases com segundas intenções: dizem coisas com terceiras, quartas e quintas intenções. Frases que, com sorte, um leigo demora de dez a 30 minutos para decifrar, e até dois dias para imaginar uma resposta à altura.

Em compensação, alguém que diz diretamente aquilo que pensa acaba provocando escândalo e mal-estar. É imediatamente catalogado como perigoso e tratado como idiota. A sinceridade parece contrariar as normas da convivência e da boa educação modernas. Assim, as pessoas bem-educadas são amáveis, mas nem sempre se deve acreditar no que dizem.

A idiotice é um tema vasto, com muitos aspectos diferentes, que sempre esteve presente na minha vida e está inscrita com destaque na cultura brasileira. Um exemplo disso são as tradi-cionais piadas de português. Elas são uma projeção da brasilidade. No fundo, os portugueses idiotas das piadas somos nós. Os episódios que envolvem Manuel, Joaquim e Maria são todos uma parte da alma do nosso país – tanto é assim que só são conhe-cidos no Brasil. Em Portugal, ao contrário, circulam piadas de brasileiros.

É certo que, quando examinamos a questão da inteligência e da idiotice, surgem algumas perguntas indiscretas: o que é, afinal, inteligência? O que é burrice? Quantos tipos há de idiotas?

Inteligência é a capacidade de perceber o real. E, como há realidades muito diferentes no mundo, não existe um tipo único de inteligência. Cada situação da vida requer um tipo específico de percepção, e por isso as inteligências são múltiplas. Por sua vez, a idiotice e a burrice podem ser definidas como a incapacidade de perceber o real. E são tão variadas quanto as inteligências. Há, portanto, muitos tipos de idiotas. Alguns deles, inclusive, são espertalhões. Sim, há idiotas que passam por inteligentes, e também há pessoas inteligentes que passam por idiotas.

Além disso, quem é inteligente em uma área da vida pode ser burro em outras. Você é esperto em política e burro na hora de jogar futebol. Sua namorada pode ser menos intelectual que você, na hora de discutir filosofia, mas há aspectos da vida em que ela coloca você no chinelo. Há coisas que seus filhos pequenos fazem bem melhor que você, como, talvez, compreender as sutilezas de um videogame ou computador. Felizmente, ter sabedoria não é saber tudo. Ter sabedoria é saber o mais importante – e administrar bem os seus talentos.

Dos muitos tipos de idiotas, um dos mais interessantes foi examinado por François Rabelais, o escritor francês do século 16. Ele abordou a burrice específica dos "doutores" que usam palavras complicadas para não dizer coisa alguma. Um deles – conta Rabelais – fez certo dia uma longa pesquisa para saber "se uma entidade imaginária, zumbindo no vácuo, é capaz de devorar segundas intenções". Outro queria saber "se uma idéia platônica, dirigindo-se para a direita sob o orifício do caos, poderia afastar os átomos de Demócrito". Um terceiro investigava "se a frigidez hibernal dos antípodas, passando numa linha ortogonal através da homogênea solidez do centro, podia, por uma delicada antiperístase, aquecer a convexidade dos nossos calcanhares". Rabelais qualifica tais idiotas eruditos como professores cegos de discípulos cegos, "que tateiam em um quarto escuro à procura de um gato preto que não está lá".(1) Tais indivíduos eram precursores de Rolando Lero, o grande erudito da televisão brasileira.

Conheço seres humanos que têm tanto medo de parecer burros que aplaudem – ou pelo menos fingem que compreendem – esse tipo de raciocínio longo, encaracolado, sem significado algum. Mas tal constrangimento é desnecessário: deixando de lado o medo de parecer idiotas, perderemos menos tempo fingindo e seremos mais felizes.

O caso de um dos maiores gênios da ciência, Albert Einstein, é ilustrativo. No início da vida, ele recusou-se a falar antes dos 3 anos de idade. Seus pais, pessoas sensatas, pensavam que fosse retardado mental. Mais tarde, quando Einstein ingressou na escola, ele foi novamente considerado imbecil. Seu biógrafo é obrigado a admitir:

"Para os colegas de classe, Albert era uma anomalia que não demonstrava interesse nenhum pelos esportes. Para os professores, era um idiota que não conseguia decorar nada e se comportava de modo estranho. Em vez de responder imediatamente a uma pergunta, como os outros alunos, sempre hesitava. E, quando respondia, movia os lábios em silêncio, repetindo as palavras." (2)

Décadas mais tarde, Einstein deu o troco. Ele qualificou o nosso moderno sistema educacional como uma estrutura que reprime a inteligência e busca fabricar idiotas obedientes:

"A humilhação e a opressão mental imposta por professores ignorantes e pretensiosos causam danos terríveis na mente jovem; danos que não podem ser reparados e que geralmente exercem influências maléficas na vida futura." E ainda: "A maioria dos professores perde tempo fazendo perguntas para descobrir o que o aluno não sabe, quando a verdadeira arte consiste em descobrir o que o aluno sabe ou é capaz de saber." (3) Por isso Mark Twain escreveu: "Nunca permiti que a escola atrapalhasse meus estudos." E George Bernard Shaw admitiu: "Em determinado momento, interrompi meus estudos para ingressar na universidade." É verdade que, desde então, o sistema educacional já melhorou um pouco. Mas deve melhorar mais.

Einstein não estava só ao ser considerado idiota. Quando jovem, o pensador indiano Jiddu Krishnamurti também despertou fortes suspeitas de que era um débil mental. Durante 50 anos, no século 20, ele deu palestras no mundo todo, e teve dezenas de livros importantes publicados em várias línguas. Mas nos seus primeiros anos de estudante, na Índia, Krishnamurti era incapaz de acompanhar os estudos. Não memorizava nada, detestava os livros e ficava horas observando a evolução das nuvens no céu, ou acompanhando a vida de plantas ou insetos.

De fato, o santo e o idiota têm muito em comum, não só entre si, mas também com as árvores e os animais. Todos eles vivem em um estado de comunhão que é independente do pensamento lógico. Isso contraria a inteligência situada no hemisfério cerebral esquerdo, que rotula e classifica todas as coisas. Essa inteligência gosta de colocar-se como se tivesse o monopólio da consciência. Esse, aliás, é um dos grandes obstáculos para a prática da meditação: a mente pensante não aceita passar o poder à mente que contempla e compreende a verdade sem necessidade de pensamentos.

ALÉM DAS APARÊNCIAS
A primeira frase dos famosos Ioga Sutras de Patañjali, o tratado milenar sobre raja ioga, afirma: "Ioga é a cessação das modificações da mente." Para alcançar a hiperconsciência, o estado mental do êxtase divino, é necessário paralisar por um momento a mente infe-rior. O sábio é um ser que renunciou à inteligência convencional e optou por uma percepção que a mente comum não consegue captar. Por isso, mesmo na sociedade brasileira do século 21, se aquele que ingressa no caminho espiritual não tiver certos cuidados, pode ser considerado louco, ou idiota, pelos seus parentes e amigos. Mas, do ponto de vista do sábio, a situação se inverte e idiota é aquele que fica preso à lógica do mundo externo.

A ciência parece reforçar o ponto de vista do sábio ao afirmar que, realmente, usamos uma parcela muito pequena do potencial disponível em nosso cérebro. Esse é um dado da natureza, e não adianta discutir com a realidade. O problema não é, pois, que sejamos um tanto limitados mentalmente. O lamentável é que, sendo limitados, nos consideramos extremamente espertos. O filósofo Sócrates, escolhido como o homem mais sábio da Grécia, explicou: "Eu e os homens notáveis de Atenas nada sabemos, e a única diferença entre eu e eles é que eu, nada sabendo, sei que nada sei, enquanto eles, nada sabendo, pensam que sabem muito."

Há um fato que nem sequer os livros de inteligência emocional confessam abertamente: quando se desperta a inteligência espiritual, perde-se, irremediavelmente, a inteligência astuciosa que permite coisas como mentir com habilidade, usar a lisonja na medida certa e falar a verdade só quando ela traz vantagens.

Daí vem a sensação de nada saber diante do mundo. A expansão mística da consciência traz consigo uma inocência idiota em relação à realidade externa, e é por isso que os sábios renunciam à agitação, preferindo uma vida retirada. Para alcançar a consciência celestial, é necessário abandonar e perder a inteligência egoísta e assumir, em certos assuntos, a aparência de um abobado.

O escritor sufi Idries Shah – um pensador místico do islamismo – escreveu um livro intitulado A Sabedoria dos Idiotas. Na abertura da obra, explicou:

"Aquilo que os homens de pensamento estreito imaginam que seja sabedoria é freqüentemente considerado loucura pelos sábios sufis. Assim os sufis, por sua vez, chamam a si mesmos de 'idiotas'. Por uma feliz coincidência, a palavra árabe que significa 'santo' (wali) tem a mesma equivalência numérica que a palavra que significa 'idiota' (balid). Assim, temos dois motivos para ver os grandes sufis como os nossos idiotas." (4)

Todo aprendiz da arte de viver deve libertar-se das chantagens emocionais do que é "politicamente correto" e deixar de lado os mecanismos da idiotice coletiva organizada, que forçam a formação de consensos falsos com base em esquemas de poder.

Mas para fugir da idiotice coletiva organizada – com sua psicologia de rebanho que proíbe o indivíduo de pensar por si mesmo – é indispensável vencer o medo de que nos seja colocado o rótulo de ovelha negra, ou de idiota. Só assim poderemos viver com responsabilidade própria e independência pessoal, duas características de uma vida valiosa. Há uma história de Ramakrishna, o sábio indiano do século 19, que ilustra bem esse ponto:

"Era uma noite completamente escura, séculos atrás. De repente, um sujeito acende uma tocha para iluminar seu caminho e vai até a casa do vizinho. Ele quer pedir fogo, porque a noite está demasiado escura. Depois de muito gritar e bater na porta, o vizinho finalmente abre a porta, ouve seu pedido e responde: 'Ah, ah, você é muito imbecil! Raciocine! Você tem uma tocha acesa na sua mão!' "

A moral da história é que todos nós corremos o risco de fazer como o pobre coitado que bateu na porta do vizinho. A verdade eterna e a fonte da felicidade estão em nossas próprias mãos. Só dependem de nós. Mas às vezes insistimos em procurá-las nas coisas externas e pedi-las a outras pessoas, renunciando à autonomia da nossa caminhada.

Os sábios, como os idiotas, são íntegros. Eles não fingem que são inteligentes e não têm medo de errar. Tentam, erram e quebram a cara. Mas, quando acertam, são geniais. O idiota de hoje pode ser o sábio de amanhã, graças à experiência adquirida. Em compensação, aquele que não possui ânimo para tentar não tem chance alguma de aprender.

Por isso devemos criar uma cultura em que é permitido a cada um cair e levantar livremente. Porque somos todos apenas aprendizes. Erramos e aprendemos o tempo todo, e devemos estimular em cada ser humano a coragem de buscar – mesmo tropeçando – os seus sonhos mais elevados. Banindo da nossa cultura o medo do ridículo, cada um se permitirá um pouco mais de deselegância – e de autenticidade – em sua maneira de viver.
Por Carlos Cardoso Aveline
Fonte: http://www.terra.com.br/planetanaweb/


Notas
(1) Vidas de Grandes Romancistas, por Henry Thomas e Dana Lee Thomas, Editora Globo, RJ-POA-SP, 1954. Ver p. 32.
(2) Einstein, a Ciência da Vida, uma biografia escrita por Denis Brian, Editora Ática, SP, 1998. Ver pp. 1, 3 e 4. (3) Assim Falou Einstein, coletânea editada por Alice Calaprice, Ed. Civilização Brasileira, RJ, 1998. Ver pp. 64 (primeira frase da citação) e 63 (segunda frase).(4) Wisdom of the Idiots, Idries Shah, The Octagon Press, Londres, 1991. Ver p. 5.

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