sexta-feira, 26 de dezembro de 2008

Natal, festa, presentes...

"O Aniversariante deve ficar extremamente feliz, por ser o motivo para toda esta atividade. Principalmente quando vê que repartimos e distribuímos o que não mais nos serve. Em nossos armários passa a sobrar espaço, mas nosso coração fica abarrotado de amor. Por que não fazer a mesma coisa dentro da gente? Por que não abrir as gavetas, e rever o que temos guardado dentro de nós? Não é uma tarefa fácil, pois o comodismo das sensações por nós conhecidas nos torna seres seguros. E, viajar para dentro da alma, tem um custo alto. Remexer nos baús da memória, nos guardados secretos da nossa alma, coloca-nos diante de um grande espelho. E no reflexo dele, está estampada a VERDADE.

Teremos coragem de nos olhar de frente, sem mágoa, sem culpa, e sem falsas imagens? O que o espelho reflete primeiro? É óbvio que, sendo humanos, temos a mania de ver nossos defeitos. Nem sempre somos generosos conosco. É mais fácil distribuir bons sentimentos para os outros. Quando se trata de nós mesmos, costumados ser duros e tremendamente críticos. Fazer faxina interna é complicado. Precisamos um bom material de limpeza. Valem algumas dicas: Para tirar manchas antigas, deixadas por ressentimentos, misture o Perdão com a Generosidade. Esfregue bem forte, que, as máculas se dissolverão. Ao fazê-lo, você liberta uma grande área, deixando espaço para novos sentimentos.

A seguir, misture Serenidade e Paciência. Este é um ótimo composto, que retira o bolor, causado pela raiva e pelo rancor. Sua casa interna começa a ficar mais clara. Uma nova paisagem se descortina dentro de você. As cores originais de sua essência tão bonita voltam a brilhar. Para as tristezas profundas, necessitamos de algumas lágrimas, e uma boa dose de otimismo. Mergulhe suas dores, e deixe de molho. Demorará um bocado, para o resultado aparecer, pois as dores geralmente deixam raízes profundas, e estas, dão frutos amargos. Não as adube com suspiros. Arranque-as, e plante a semente da Ventura, no lugar delas. Cansa limpar nossa casa, não é mesmo? Mas, temos boas ferramentas á nossa disposição, que tornarão a nossa tarefa mais leve. A persistência é igual a nossa vassoura. Ela alcança em todos os lugares e frestas, removendo a poeira acumulada, e nos mostrando resultados concretos. Tenha-a sempre á mão.

Temos também a Fé.
Esta, tal como uma grande mangueira, derrama jatos de renovação. Levanta-nos da apatia, e move nosso espírito, rumo á realização. Como é bom acreditar em nós mesmos. Saber que podemos tudo, se realmente quisermos. É verdade! Foi o Pai do Céu quem nos disse. A verdadeira fé move nossas montanhas de dificuldades, abrindo caminhos, e mostrando um novo horizonte. Olhe ao seu redor. Um novo quadro apareceu. Abriram-se as janelas de sua alma, e esta, derrama-se em luz, que abre seu lindo sorriso. Permita que estes bons sentimentos invadam todo seu ser.

Retire da mente, os pensamentos repetitivos, de desânimo, de desgosto, e de pessimismo.
A descrença é corrosiva, e abala toda sua plenitude. Plante luz dentro de você. Seja o reflexo da sua parte mais bonita. Seja um exemplo de harmonia e de benevolência para consigo mesmo. Agora que está preparado para sua grande festa, convide o aniversariante. Permita que Ele entre novamente. Ele quer muito morar nesta sua nova casa, tão lindamente decorada. Segure a mão dele. Jamais se sentirá sozinho outra vez.
Dê nova Luz ao seu Natal."

Iraci Weber Eidt - Mommentum ad Infinitum
http://mommentumadinfinitum.blogspot.com/

terça-feira, 16 de dezembro de 2008

Felicidade

Se é verdade que a cada dia basta sua carga, por que então teimamos em carregar para o dia seguinte nossas mágoas e dores?


Há ainda os que carregam para a semana seguinte, o mês seguinte e anos afora...


Nos apegamos ao sofrimento, ao ressentimento, como nos apegamos a essas coisinhas que guardamos nas nossas gavetas, sabendo inúteis, mas sem coragem para jogar fora.


Vivemos com o lixo da existência, quando tudo seria mais claro e límpido com o coração renovado.
As marcas e cicatrizes ficam para nos lembrar da vida, do que fomos, do que fizemos e do que devemos evitar.


Não inventaram ainda uma cirurgia plástica da alma, onde podem tirar todas as nossas vivências e nos deixar como novos.


Ainda bem...


Não devemos nos esquecer do nosso passado, de onde viemos, do que fizemos, dos caminhos que
percorremos.


Não podemos nos esquecer de nossas vitórias, nossas quedas e nossas lutas.
Menos ainda das pessoas que encontramos, essas que direcionaram nossas vidas, muitas vezes sem saber.


O que não podemos é carregar dia-a-dia, com teimosia, o ódio, o rancor, as mágoas, o sentimento de derrota e oressentimento.


Acredite ou não, mas perdoar a quem nos feriu dói mais na pessoa do que o ódio que podemos sentir durante toda uma vida.


As mágoas envelhecidas transparecem no nosso rosto e nos nossos atos e moldam nossa existência.


Precisamos, com muita coragem e ousadia, abrir a gaveta do nosso coração e dizer:


Eu não preciso mais disso, isso aqui não me traz nenhum benefício. E quando só ficarem a lembrança das alegrias, do bem que nos fizeram, das rosas secas, mas carregadas de amor, mais espaço haverá para novas experiências, novos encontros. Seremos mais leves, mais fáceis de ser carregados, mesmo por aqueles que já nos amam.


Não é a expressão do rosto que mostra o que vai no coração?


De coração aberto e limpo nos tornamos mais bonitos e atraentes e as coisas boas começam a acontecer.


Luz atrai, beleza atrai.
Tente a experiência.
Sua vida é única e você é único, sua vida merece que, a cada dia, você dê uma chance para que ela seja plena e feliz.


Letícia Thompson

http://amigosdofreud.blogspot.com/

sábado, 13 de dezembro de 2008

Princípio do vazio

Você tem o hábito de juntar objetos que são inúteis no momento, acreditando que um dia (não sabe quando) poderá precisar?

Tem o hábito de juntar dinheiro e não gastar, pensando que no futuro poderá faltar?
Tem o hábito de guardar roupas, jogos, sapatos, móveis, utensílios domésticos e outras coisas que já não usa há bastante tempo?

Tem o hábito de guardar o que sente, rixas ressentimentos, tristezas, medos, pessoas, etc?
E dentro de você ?...
Não faça isso!
É anti-prosperidade.
É preciso criar um espaço, um vazio, para que as coisas novas cheguem em sua vida.
É preciso eliminar o que é inútil em você e na sua vida para que a prosperidade venha.
É a força desse vazio que absorverá e atrairá tudo o que você deseja.
Enquanto você estiver material e emocionalmente carregado de coisas velhas e inúteis, não haverá espaço aberto para novas oportunidades.
Os bens precisam circular...

Limpe as gavetas, os armários, seu quarto, a garagem de tudo que não é mais usado.
A atitude de guardar um montão de coisas inúteis amarra sua vida.
Não são os objetos guardados que estancam sua vida, mas o significado da atitude de guardar.
Quando se guarda, se considera a possibilidade de falta, de carência. Você mentaliza que amanhã poderá faltar e que não terá meios de prover suas necessidades.
Com essa postura, estará enviando duas mensagens para seu cérebro e para sua vida:
1º... Você não confia no amanhã!
2º... Bloqueia que o novo e melhor venham para você, uma vez que se alegra em guardar coisas velhas e inúteis!

Joseph Newton

quarta-feira, 3 de dezembro de 2008

Os Três Reis - Um Conto de Natal

Gaspar era rei de Markash, o país de mar azul e praias brancas. Nele moravam homens e mulheres de pele clara, cabelos negros e olhos castanhos. Aos seus portos chegavam navios de todo o mundo que vinham para vender suas mercadorias exóticas. O comércio acontecia em todos os lugares, nos mercados das grandes praças e nas pequenas lojas de uma porta só, em vielas estreitas. Gaspar, da torre do seu palácio, contemplava tudo. Como rei ele deveria sentir-se feliz: todos lhe eram agradecidos e todos o amavam. Mas, a despeito de tudo isso, havia no seu coração uma tristeza incurável, nostalgia que mais doía quando o sol se punha sobre o mar incendiando as águas. Por mais que se esforçasse o rei não conseguia sorrir. Gaspar convocou então os seus sábios e expôs-lhes o seu sofrimento. Os sábios lhe disseram que o remédio para a tristeza é o conhecimento. “A ciência é uma fonte de alegria“, eles lhe disseram. O rei mandou então vir professores e cientistas de todo o mundo, importou livros, estabeleceu bibliotecas, montou laboratórios, construiu observatórios astronômicos. Por anos se dedicou à aprendizagem dos conhecimentos da ciência. Agora estava velho. Sabia tudo o que havia para ser sabido sobre o mundo. Mas a ciência não lhe trouxe alegria. Ele continuava sem saber sorrir. Era madrugada. A luz do sol já iluminava o horizonte. O rei já estava desperto. Na varanda do seu palácio ele contemplava os céus estrelados. Foi então que, olhando para o oriente, ele viu uma nova estrela, estrela que não se encontrava nos mapas dos céus que conhecia. Era uma estrela diferente porque, ao contemplá-la, ele ouvia uma música de indescritível beleza que o fazia feliz. E ele sorriu pela primeira vez. Deslumbrado, mandou vir os sábios que ainda dormiam, e mostrou-lhe a estrela. Mas os sábios, olhando na direção que o rei indicara, nem viram estrela e nem ouviram a música que ele dizia ouvir. Saíram, então, tristemente, convencidos de que o rei estava realmente velho. Os anos de senectude haviam chegado. Gaspar, indiferente à incredulidade dos sábios, ordenou que se preparasse um navio para uma grande viagem, na direção da estrela. Balt-hazar era rei da Núbia, país montanhoso onde moravam homens e mulheres de pele negra e brilhante. As montanhas da Núbia eram cobertas de vegetação luxuriante, árvores gigantescas, frutas as mais variadas, onde viviam pássaros de todos os tipos. Por todos os lugares se viam riachos de água limpa, com remansos e cachoeiras. Era um país belo e fértil. Balt-hazar, da janela do seu palácio contemplava as montanhas e florestas que se perdiam de vista e pensava: “O Paraíso deve ter sido aqui...“ Entretanto, e a despeito da beleza e da fertilidade da terra, o rei não era feliz. Havia uma tristeza no seu coração, tristeza que ficava mais forte quando os pássaros cantavam seus cantos de final de tarde. O canto deles era belo e triste: o coração do rei era belo e triste... O rei convocou os sacerdotes, videntes e profetas e falou-lhes sobre a sua tristeza. “De que me vale a beleza do meu país se o meu coração está triste?“, ele perguntou. Os homens santos lhe disseram que a tristeza era sinal de que sua alma estava distante de Deus. “Deus é uma fonte de alegria“, eles lhe disseram. Balt-hazar, então, mandou vir de terras longínquas, místicos e teólogos que lhe ensinassem os caminhos para Deus. Contratou também arquitetos e artistas para construir novos templos. E comprou os livros sagrados de todas as tradições religiosas do mundo. Por anos a fio ele se dedicou às coisas sagradas: leu, meditou, orou... Por fim, chegaram os anos da velhice. Balt-hazar conhecia tudo o que os homens sabem sobre os caminhos que levam a Deus. Mas o seu coração continuava triste, mais triste ainda quando os pássaros cantavam ao entardecer... Já era madrugada. Balt-hazar, como de costume, levantou-se para as orações. Ele orava olhando para os céus, morada dos deuses. Foi então que, olhando para o horizonte, no lugar do sol nascente, ele viu uma estrela que nunca havia visto. Ao redor dela havia um arco-íris. Mas o estranho é que, ao contemplá-la, ele ouvia uma música de enorme beleza, semelhante à beleza do canto dos pássaros ao entardecer. Só que, ao ouvi-la, seu coração não ficava triste. Ao contrário; era inundado por uma alegria que nunca experimentara. O rei mandou chamar os sacerdotes, místicos e profetas. “Vejam aquela estrela“, disse ele apontando para o horizonte. “E ouçam a música que sai dela!“ Os homens de Deus olharam na direção indicada mas nem viram estrela e nem ouviram música. Deixaram então o rei embriagado de alegria e comentaram, baixinho, entre si: “Nosso rei enlouqueceu. Isso quer dizer que o fim da sua vida está chegando...“ Balt-hazar, entretanto, mandou preparar cavalos para uma longa viagem, na direção da estrela. Mélek-hor era rei de Lagash, o país dos desertos e das areias sem fim. Lá viviam mulheres de olhos amendoados e homens rudes de barba espessa. A sua alegria eram os oásis que pontilhavam as areias com o verde das palmeiras e o frescor das fontes. Foi num desses oásis que Mélek-hor construiu o seu palácio com enormes blocos de pedra branca na forma de uma pirâmide. Pirâmides, como se sabe, são figuras mágicas que garantem a imortalidade. A aridez e solidão da vida do deserto não o incomodavam. Na verdade, ele as considerava desafios para o corpo e para a alma. Mas havia uma coisa que o fazia sofrer: uma melancolia indefinível que sentia ao contemplar os horizontes ondulados de areia que o sol poente pintava de vermelho. O rei convidou seus amigos para um jantar e lhes falou sobre a sua melancolia. E eles lhe disseram: “É compreensível. Nosso país é muito árido. O que lhe falta, ó rei, são os prazeres da vida. Os prazeres o farão sorrir.“ Mélek-hor então, importou prazeres de todas as partes do mundo: vinhos, frutas, iguarias, músicos, artistas, mulheres lindas... Por anos ele se dedicou aos prazeres que há. Nisso ninguém o excedeu. Mas os prazeres não lhe trouxeram alegria. E ele, já velho, rezava em silêncio: “Não quero prazeres; quero alegria, quero alegria...“ A luz da madrugada anunciava que a noite chegava ao fim. O rei, do alto da sua pirâmide, tomava uma taça de vinho. Era hábito seu contemplar o sol nascente: isso sempre lhe dera prazer. Mas o prazer da beleza sempre lhe vinha misturado com tristeza. Mas, desta vez, não sentiu tristeza. Espantou-se ao perceber que estava alegre. E a alegria lhe vinha de uma nova estrela nunca vista que brilhava no céu. E - curioso! - ao contemplar a estrela ele ouvia uma melodia que o enchia de felicidade. Mélek-hor sorriu então pela primeira vez. Deslumbrado, mandou vir seus amigos. Apontou-lhes a estrela, falou-lhes sobre a música. Mas eles, olhando para os céus, não viram a estrela e nem ouviram a música. Amigos que eram, disseram ao rei: “Querido Mélek-hor, nosso rei amado: não há estrela, não há música. Tua mente já não percebe as coisas da terra. Ela navega nas águas do grande rio, na direção da terceira margem... Choramos porque sabemos que estás de partida...“ E tristemente se retiraram, entoando um silencioso requiem. Mas o rei, indiferente às palavras dos amigos, mandou preparar os camelos para uma viagem na direção da estrela... Gaspar, navegava do norte, em seu navio, velas enfunadas por uma brisa fresca e constante. Balt-hazar, vinha do sul, em seu cavalo, por caminhos que cortavam matas verdejantes. Mélek-hor, vinha do oeste, em seu camelo, atravessando desertos com areias escaldantes. Três reis, tão diferentes, tão distantes, nada sabendo um sobre os outros, numa viagem absurda, com que jamais haviam sonhado, na direção de uma estrela que só eles viam, e de uma música que só eles ouviam. Sim, com certeza haviam enlouquecido... As brisas mansas que enfunavam as velas do navio de Gaspar repentinamente se transformaram numa horrenda tempestade com ventos furiosos. Seu navio, casca de noz, foi arremessado contra um rochedo e se despedaçou. Mas o mar se apiedou de Gaspar e um golfinho o levou, desacordado, para uma praia. Recuperado do medo, agora só lhe restava continuar a pé a sua jornada. Sem alternativas, o navegador se transformou em andarilho. Caminhou muito. E aconteceu que, depois de muito caminhar, ele chegou a uma encruzilhada. Era aí que se cruzavam os quatro caminhos do mundo: o caminho que vinha do norte, o caminho que vinha do sul, o caminho que vinha do oeste e um quarto caminho... Olhando na direção do quarto caminho podia-se ver, no horizonte, a estrela que brilhava... Havia ali, no meio da encruzilhada, uma estalagem chamada “Os quatro caminhos do mundo“. Foi nela que os três reis se encontraram. À noite assentaram-se à volta de uma mesa para comer: pão, queijo, frutas secas, vinho. E começaram a falar. A contar suas estórias. À medida que cada um deles falava os outros se enchiam de espanto. Que absurda coincidência! Como era isso possível? Que sendo três desconhecidos, vindos de três cantos do mundo, as suas estórias fossem a mesma estória. Eram iguais. Todos haviam sofrido a mesma nostalgia. Todos haviam visto a estrela que ninguém mais vira. Todos haviam ouvido a melodia que ninguém mais ouvira. Descobriram, então, que eram companheiros. Dali para frente viajariam juntos. E assim foi. Por vários dias caminharam... Aconteceu então que, noite já chegada, chegaram a um minúsculo vilarejo. “Que vilarejo será esse?“, perguntaram. Gravado numa pedra estava o seu nome: “Beth-léhem“ “Estranho“, disse o erudito Gaspar: “Aprendi tudo o que há para ser aprendido sobre reinos, províncias, cidades e vilas. Mas nunca vi esse nome em qualquer um dos livros que li“. Mélek-hor acendeu sua lâmpada de azeite e iluminou, com sua luz bruxoleante, o mapa que abrira sobre o chão. “Aqui está ela“, ele disse marcando com o seu dedo um lugar no mapa. “Beth-léhem. Fica precisamente na divisa entre dois grandes reinos. À esquerda está o Reino da Fantasia. À direita está o Reino da Realidade. “Já li sobre esses dois reinos nos livros sagrados“, disse Balt-hazar. São reinos perigosos. Aqueles que vivem no Reino da Fantasia ficam loucos. Aqueles que vivem no Reino da Realidade ficam loucos também, loucos de outra espécie. Somente se salvam da loucura aqueles que vivem na fronteira entre os dois reinos. Esses ficam sábios e se tornam artistas. Pois Beth-léhem está precisamente na divisa entre o Reino da Fantasia e o Reino da Realidade...“ No vilarejo todos dormiam. O ar estava perfumado com flores de jasmim e magnólia. E havia um brilho no ar – milhares, milhões de vaga-lumes pousados nas árvores. Ovelhas baliam ao longe, enquanto o seu pastor tocava uma flauta... Era uma noite de paz. A estrela iluminava uma gruta. Os reis se aproximaram. Na gruta havia vacas, cavalos, burros, ovelhas. Era uma estrebaria. Mas, convivendo com os animais, uma pequena família: um jovem e uma jovem que amamentava um nenezinho recém-nascido. Era só isso. Nada mais. Perceberam, então, que haviam se enganado: não era a estrela que iluminava a cena. Era o nenezinho que iluminava a estrela. E olhando bem para ela puderam ver, nela refletido como num espelho, o rosto da criancinha. Aí entenderam, deixaram de ser reis e se transformaram em sábios: “O universo é um berço onde uma criança dorme!“ Notaram, então, que uma coisa estranha acontecia quando olhavam para o nenezinho: eles perdiam a sua compostura real e eram dominados por uma vontade incontrolável de rir. E quando riam, ficavam leves e começavam a flutuar. Era assim: quem visse o menino se transformava em anjo... Os reis, em meio aos risos e vôos, olharam cada um para o outro e disseram: “Nossa busca chegou ao fim. Encontramos a alegria. Para se ter alegria é preciso voltar a ser criança...“ Ato contínuo tomaram suas coroas, capas de veludo, dinheiro, ouro, jóias – pesadas coisas de adulto - e as depuseram no chão, ao lado das vacas e dos burros... Partiram leves, ora andando, ora pulando, ora voando, mas sempre rindo. “Vou mudar de vida“, disse Gaspar. “É horrível ter de estar estudando ciência o tempo todo. Vou me transformar em poeta...“ “Eu também vou mudar de vida“, disse Balt-hazar. “É horrível estar rezando o tempo todo. Vou ser palhaço. O riso é o início da oração“. Ao que Mélek-hor acrescentou: “E eu descobri o prazer supremo, que vem sempre acompanhado de alegria: brincar. Vou ser um fabricante de brinquedos. Quem brinca volta a ser criança. E quem volta a ser criança está de volta ao Paraíso.“ E assim partiram, cada um por um caminho. E se você, nas suas andanças, se encontrar com um poeta, um palhaço ou um fabricante de brinquedos, pergunte se ele não tem notícias de uns três reis...

(Correio Popular, Caderno C, 23 (1a parte) e 30 (2a parte)/12/2001)

domingo, 23 de novembro de 2008

As sete verdades do bambu

Todos nós conhecemos pessoas de grande potencial com a sua carreira profissional atrofiada ao longo da vida. Presenciamos essas mesmas pessoas murmurando e, de maneira solidária, tentamos encontrar algum motivo que explique o fracasso. Tentativa, até então, sem resposta. Qual seria então o motivo do fracasso?

Conta uma pequena história que depois de uma grande tempestade, um jovem que visitara o seu avô, o chamou para a varanda e indagou: ""Vovô, me explica como esta figueira, árvore frondosa e imensa, que precisava de quatro homens para abraçar seu tronco se quebrou, caiu com vento e com chuva, e este bambu tão fraco continua de pé?""

O avô, no alto de sua sabedoria afirmou: ""Filho, o bambu permanece em pé porque teve a humildade de se curvar na hora da tempestade. A figueira quis enfrentar o vento e se partiu"".

Aqui chegamos a um ponto fundamental! O bambu nos ensina sete coisas que, se você tiver a grandeza e a humildade dele, vai experimentar o triunfo da paz em seu coração e da vitória em todas as áreas de sua vida.

- A primeira verdade: O bambu nos ensina o que nos é mais importante; a humildade diante dos problemas, das dificuldades. Não devemos nos curvar diante dos problemas e das dificuldades que enfrentamos no dia-a-dia, mas diante daqueles mais experientes que nos ensina a vencer os intemperes da vida. O egocentrismo tem destruído "grandes" profissionais que se julgam grandes demais para ouvir conselhos e continuar aprendendo.

- A segunda verdade: O bambu cria raízes profundas. É muito difícil arrancar um bambu, pois o que ele tem para cima ele tem para baixo também. Você precisa aprofundar a cada dia suas raízes no conhecimento e na prática, respeitando seus clientes e se fundamentando na seriedade, na ética e na honestidade.

- A terceira verdade: Você já viu um pé de bambu sozinho? Apenas quando é novo, mas antes de crescer ele permite que nasça outros a seu lado (como no cooperativismo e no trabalho em equipe). Sabe que vai precisar de seu amigo de trabalho e de seus superiores. Eles estão sempre grudados uns nos outros, tanto que de longe parecem com uma árvore. Às vezes, tentamos arrancar um bambu lá de dentro, cortamos e não conseguimos. Os animais mais frágeis vivem em bandos, para que desse modo se livrem dos predadores.

Infelizmente vemos os profissionais do "EU". Eu posso, eu faço sozinho e consigo sozinho. Dificilmente trocam idéias e colhem o melhor de cada companheiro, pois não sabem trocar experiências e pior, não aprendem com a experiência dos parceiros. Quando líderes, ouvem para cumprir protocolos, nunca levando em consideração o que seus comandados têm para acrescentar. É uma pena que ainda existam profissionais com esse pensamento.

- A quarta verdade: O bambu nos ensina a não criar galhos. Como tem a meta no alto e vive em moita, comunidade, o bambu não se permite criar galhos. Nós perdemos muito tempo na vida tentando proteger nossos galhos, coisas insignificantes que damos um valor inestimável. Para ganhar, é preciso perder tudo aquilo que nos impede de subirmos suavemente.

Pesquisas revelam que um imenso número de pessoas vivem 75% do tempo no passado, 20% do tempo no futuro e apenas 5% do tempo no presente. Preocupados com seus galhos sofrem por problemas que 80% deles nem chegam a acontecer. Se preocupam com coisas tão pequenas que as oportunidades de crescimento passam que eles não vêem.

- A quinta verdade: O bambu é cheio de "nós" (e não de eu's). Os nós são os problemas e as dificuldades que superamos. Os nós são as pessoas que nos ajudam, aqueles que estão próximos e acabam sendo força nos momentos difíceis. Não devemos pedir a Deus que nos afaste dos problemas e dos sofrimentos. Eles são nossos melhores professores, se soubermos aprender com eles.

Controle-se emocionalmente, raciocínio e otimismo nos ajudam a vencer as adversidades que com certeza vão sempre existir em nossa vida, isso é inevitável.

- A sexta verdade: O bambu é oco, vazio de si mesmo. Enquanto não nos esvaziarmos de tudo aquilo que nos preenche, que rouba nosso tempo, que tira nossa paz, não seremos felizes. Ser oco significa estar pronto para receber informações úteis e que nos faz crescer.

Já perceberam a quantidade de porcaria que recebemos em nossos lares pela televisão? Cenas de sexo na frente de nossos filhos, assassinato, novelas ensinando a roubar, ludibriar, maquinar o mal, enfim; coisas que só nos deixam para baixo e nos preenche de informação que tiram o foco do nosso sucesso profissional.

Por fim, a sétima verdade (lição) do bambu é que ele nos dá é exatamente a idéia de como deve ser nossa vida: Ele só cresce para o alto. Ele busca as coisas que estão no Alto. Essa é a sua meta.

QUAL É A SUA?

Muito sucesso e tudo de bom.

Fábio Acauhi 21/11/2008

domingo, 2 de novembro de 2008

Perdas necessárias

As perdas são partes da vida. As perdas são necessárias porque para crescer temos de perder, não só pela morte, mas também por abandono, pela desistência. Em qualquer idade, perder é difícil e doloroso, mas só através de nossas perdas nos tornamos seres humanos plenamente desenvolvidos.

As pessoas que somos e a vida que vivemos são determinadas, de uma forma ou outra, pelas nossas experiências de perda. Esta compreensão ajuda a ampliar o campo de nossas escolhas e possibilidades. Todos nós, em princípio, lutamos contra as perdas, mas as perdas são universais, inexoráveis e muito abrangentes em nossas vidas.

E nossas perdas incluem não apenas separações e abandonos, mas também a perda consciente ou inconsciente, de sonhos românticos, ilusões de segurança, expectativas irreais e outras.

As perdas que enfrentamos ao longo da vida, e das quais não podemos fugir são:
Que o amor de nossos pais não é só nosso.
Que nossos pais vão nos deixar, e que nós vamos deixá-los.
Que por mais sábio, belo e encantador que alguém seja ninguém tem assegurado casar e " ser feliz para sempre".
Que temos de aceitar, em nós mesmos e nos outros, um misto de amor e ódio, de bem e de mal.
Que tudo nesta vida é implacavelmente efêmero.
Que estamos neste mundo essencialmente por nossa conta.
Que somos completamente incapazes de oferecer a nós mesmos ou aos que amamos, qualquer forma de proteção contra a dor e contra as perdas necessárias.
Que nossas opções são limitadas pela nossa anatomia e pelo nosso potencial.
Que nossas ações são influenciadas pelo sentimento de culpa incutido em nós pela educação que recebemos.

Examinar estas perdas permitem aceitar e modelar melhor os fatos da nossa vida.
Começar a perceber com nossas perdas moldaram e moldam nossas vidas pode ser o começo de uma vida mais promissora e Feliz.

Judith Viorst
http://amigosdofreud.blogspot.com/

segunda-feira, 8 de setembro de 2008

Receita de alegria

Jogue fora todos os números não essenciais para tua sobrevivência.

Isto inclui: idade, peso e altura. Que eles preocupem ao médico. Para isto o pagamos.

Conviva, de preferência, com amigos alegres.

Os pessimistas não são convenientes para ti.
Continue aprendendo.

Aprenda mais sobre computadores, artesanato, jardinagem, qualquer coisa.

Não deixe seu cérebro desocupado. Uma mente sem uso é oficina do diabo. E o nome do diabo é “Alzheimer”.

Ria sempre, muito e alto. Ria até não poder mais. Inclusive de você mesmo! Quando as lágrimas chegarem: aguente, sofra e siga adiante.
Agradeça cada dia que amanhece como uma nova oportunidade para fazer aquilo que ainda não tiveste coragem de começar.

Do princípio ao fim. Prefira novos caminhos do que voltar a caminhos mil vezes trilhados.
Apague o cinza de tua vida. E acenda as cores que carregas dentro de ti.
Desperte teus sentidos para que não percas tudo de belo e formoso que te cerca.
Contagie de alegria ao teu redor, e tente ir além das fronteiras pessoais a que tenhas chegado aprisionado pelo tempo.

Porém lembre-se: a única pessoa que te acompanha a vida inteira é você mesmo.

Cerque-se daquilo que gosta: família, animais, lembranças, música, plantas, um hobby, seja o que for. O lar em você vive é seu refúgio, porém não fique trancado nele.

Seu melhor capital, a saúde. Aproveite-a se é boa, não a desperdice; se não é, não a estrague mais.
Não se renda à nostalgia. Saia à rua. Vá à uma cidade vizinha, a um país estrangeiro.
Porém não viaje ao passado porque, dói!

Diz aos que ama, que realmente os ama e faça isso em todas as oportunidades que tiver. E lembre-se sempre que a vida não se mede pelo número de vezes que respiramos, mas pelos momentos que teu coração palpitou forte: de muito rir, de surpresa, de êxtase, de felicidade e sobretudo, de amar sem medida.

“Há pessoas que transformam o sol em uma pequena mancha amarela, porém há também as que fazem de uma simples mancha amarela o próprio sol.”

Pablo Picasso

terça-feira, 26 de agosto de 2008

De pais e professores

De pais e professores

"Não é preciso ser psicólogo para imaginar a profunda frustração e humilhação sentidas por uma mãe que, por causa de suas próprias carências, não consegue ajudar o filho a fazer o dever de casa. Tampouco são necessários poderes mediúnicos para imaginar que quem passa por esse tipo de constrangimento relutará em repeti-lo"
Moacyr Lopes/Folha Imagem

"Como se isso não bastasse, ainda temos de penetrar a redoma da incomunicabilidade dos semiletrados, que não lerão este artigo, nem as notícias dos jornais sobre educação, nem livro algum sobre o assunto. Precisamos de um pouco de civismo. Precisamos que os bacharéis que colocam os filhos em escolas particulares ajudem seus concidadãos menos afortunados a clamar por uma escola pública melhor. A opção por ignorar o que se passa à nossa volta só continuará nos levando à barafunda do desconhecimento e do atraso".


Sala de aula: no Brasil, é esse, basicamente, o cenário da luta pela educação

Há uma relação bastante estranha na educação brasileira: aquela entre os professores de nossas escolas e os pais de seus alunos, especialmente os das escolas públicas. Se não, vejamos: nossas escolas são um fracasso retumbante. Segundo o último Inaf, 72% de nossa população não é plenamente alfabetizada. O Saeb revela que a qualidade do ensino vem caindo desde a primeira edição do exame, em 1995. Constatamos, por meio do Saeb, que apenas em torno de 25% dos alunos de 8ª série sabem que "3/4" é igual a 0,75, e não 3,4. Oitava série! O Pisa mostra que, entre 57 países testados, o Brasil fica em 53º lugar em matemática e 52º em ciências. Segundo a Unesco, 24% de nossos alunos repetem a 1ª série, contra 2,5% no Chile e 4% na Índia. Diante desse quadro, seria de esperar que a sociedade que gasta em torno de 4% do seu PIB com educação pública estivesse clamando por melhorias urgentes e se mostrasse profundamente insatisfeita com o desempenho da escola e de seus funcionários. Estes, por sua vez, deveriam estar temerosos da desaprovação dos pais e preocupados em melhorar seu desempenho. Pode-se dizer que, no Brasil, ocorre praticamente o oposto.

Em ampla pesquisa com professores, que resultou no livro O Perfil dos Professores Brasileiros, a Unesco pediu aos docentes que identificassem, em uma lista com várias opções, quais os fatores que mais influenciam o aprendizado de seus alunos. O vencedor, disparado, foi "acompanhamento e apoio familiar", com 78% dos votos. "Competência do professor" ficou com apenas 32%. Em outra grande pesquisa qualitativa, organizada pela Unesco e pelo Inep (publicada no livro Repensando a Escola: um Estudo sobre os Desafios de Aprender, Ler e Escrever), os autores declararam o seguinte: "Chama atenção a freqüência com que professores e diretores se referem à questão da família dos alunos: muito do que acontece de bom e de ruim na escola é explicado pela origem familiar". "Uma pergunta [aos professores] do tipo 'como você avalia o nível de leitura dos alunos da 4ª série?' é respondida da seguinte maneira: 'Eles são fracos, não sabem ler muito bem, não gostam de ler, porque em casa ninguém incentiva'. Raramente é colocada a função primordial da escola na tarefa de ensinar a ler qualquer aluno, de qualquer origem familiar ou social." Em vários dos seminários com professores de que participo, uma das primeiras perguntas da platéia depois da exposição costuma ser a respeito da família do aluno: como seria possível ensinar com uma família que "não apóia"?

Seria de esperar que a família brasileira estivesse enfurecida com uma escola que, além de não cumprir o seu papel no ensino de seus filhos, ainda decide transferir a responsabilidade para o próprio aluno e sua família. Negativo. Os pais brasileiros estão contentes com a escola do filho. Em pesquisa do Inep com 10.000 pais do país, a nota que eles deram às instalações da escola do filho foi 8,1. Oitenta e um por cento têm uma percepção positiva dos diretores da escola, dizendo que eles "resolvem os problemas". Oitenta e três por cento acham que os professores estão preocupados em ensinar e dar boas aulas. A nota dada à qualidade do ensino é 8,6 (!).

Para entender como os pais podem considerar tão boa uma escola de resultados tão ruins, e por que os professores os percebem como desinteressados, falta a variável fundamental da equação: entender quem são esses pais.

O dado mais importante a notar é que 58% têm o ensino fundamental incompleto. Só 3% têm diploma universitário. Três quartos lêem jornais e livros nunca ou raramente. Apenas 7% acessam a internet. São pessoas de baixíssima formação acadêmica e pouco grau de informação. Como lhes é difícil julgar a qualidade do ensino, uma variável intangível, eles costumam usar como indicador aquilo que é visível. Comparam a escola que cursaram com aquela de seu filho e percebem: os prédios são mais limpos e bonitos, há merenda de boa qualidade, há transporte escolar, o filho recebe uniforme e livros didáticos e, fundamentalmente, há matrícula garantida. Cinqüenta e sete por cento dos pais dizem que a escola do filho é melhor que aquela que o pai cursou. O pai fica contente pelo fato de o filho ter as oportunidades escolares que ele não teve. Não possui conhecimento suficiente do processo escolar, nem acesso a fontes de informação mais aprofundadas, que lhe permitam entender que a qualidade do ensino do filho é fraca.

Da mesma maneira, o seu pouco envolvimento na vida estudantil do filho não é fruto de desinteresse ou desamor. Ele é facilmente compreensível quando entendemos que uma pessoa com ensino fundamental incompleto é minimamente alfabetizada. Uma mãe, ouvida em um grupo focal no estudo da Unesco, descreveu da seguinte forma a tentativa de ajudar o filho no dever de casa: "A professora mandou uma lição para o meu filho. Tinha a zebra, o desenhozinho da zebra na palavra. Daí era pra ele achar cinco palavras com as duas primeiras letras de zebra e cinco com as duas últimas. Eu olhei revista, jornal e não consegui achar as cinco palavras com Z nem as cinco com B. Achei duas de cada! Começa a embaralhar, sabe? Não consigo". Note que a dificuldade da mãe com a escrita é tão grande que, além de não conseguir identificar a letra que procura, ela procura a letra errada: "B" não faz parte das duas primeiras ou das duas últimas letras de "zebra". Não é preciso ser psicólogo para imaginar a profunda frustração e humilhação sentidas por uma mãe que, por causa de suas próprias carências, não consegue ajudar o filho a fazer o dever de casa. Tampouco são necessários poderes mediúnicos para imaginar que quem passa por esse tipo de constrangimento relutará em repeti-lo. É terrível sentir-se incapaz de ajudar um filho a completar uma tarefa banal.

Nossos professores precisam se resignar ao fato de que os pais de seus alunos podem dar uma contribuição limitada ao ensino dos filhos. Devem entender que a incapacidade de ajudar os filhos com os deveres de casa ou a estudar não é fruto de menosprezo pela sua educação, mas sim de despreparo. Nossa escola precisa se preparar para educar as crianças brasileiras, filhas de pais e mães brasileiros, inseridos na realidade brasileira. Sem dúvida, seria tudo mais fácil se os pais de seus alunos fossem finlandeses ou coreanos: a família é, sim, um elemento importante no aprendizado dos filhos. Mas o fato é que a realidade brasileira é essa. Por mais que um professor se lamente e condene os pais de seus alunos, ele não fará com que aquele pai se torne um companheiro de estudos do filho. A família brasileira está dada, não será mudada através da atuação do professor em sala de aula. Em uma situação como essa, a atuação de cada professor é ainda mais importante: a escola é a porta de saída que o aluno tem de um ciclo intergeracional de ignorância e miséria. Longe de poderem lavar as mãos e culpar os outros, é nessa situação de dificuldade geral que os funcionários de uma escola devem se preocupar em dar sempre mais de si.

Essa mudança de comportamento dentro da escola se dará quando houver pressão nesse sentido, vinda de fora de seus muros. A grande dificuldade é chegar aos pais dos alunos, informar-lhes que a escola de seu filho é fraca, que aquilo que eles acham bom é, na verdade, muito ruim e que a cobrança que hoje vem do professor para os pais deve ter sentido inverso. Essa é uma missão ingrata. Primeiro, porque se trata de dar más notícias a quem acredita que tudo vai bem. Segundo, por ter de inverter a percepção filosófica de grande parte da nossa população a respeito do estado brasileiro, que deve parar de ser visto como o provedor generoso que concede benefícios e passar a ser encarado como o prestador de serviços que está aí para atender à vontade do cidadão, financiado pelo imposto que nós pagamos.

Como se isso não bastasse, ainda temos de penetrar a redoma da incomunicabilidade dos semiletrados, que não lerão este artigo, nem as notícias dos jornais sobre educação, nem livro algum sobre o assunto. Precisamos de um pouco de civismo. Precisamos que os bacharéis que colocam os filhos em escolas particulares ajudem seus concidadãos menos afortunados a clamar por uma escola pública melhor. A opção por ignorar o que se passa à nossa volta só continuará nos levando à barafunda do desconhecimento e do atraso.



terça-feira, 19 de agosto de 2008

ACEITAR AS PESSOAS

Ouvi dois amigos conversando e um deles se queixava da incompreensão das pessoas, das agressões verbais, dos desentendimentos.

Isto o revoltava e ele dizia invejar a serenidade e o equilíbrio do interlocutor.

- Qual é o segredo? perguntou.


- Não existe segredo, mas somente paixão pela vida e esforços contínuos para aprender, respondeu o outro.

- Aprender o que?

- A aceitar as pessoas, mesmo que ela nos desapontem, quando não aceitam os ideais que escolhemos. Quando nos agridem e nos ferem com palavras e atitudes impensadas.

- Mas é muito difícil aceitar pessoas assim.

- É verdade. É difícil aceitá-las como elas são e não como gostaríamos que elas fossem. Mas qual é o nosso direito de mudá-las?

- E como você consegue?

- Estou aprendendo a amar.Estou aprendendo a escutar, mas não apenas com os ouvidos, também com os olhos, com o coração, com a alma, com todos os sentidos. Muitas vezes as pessoas não falam com palavras, mas com a postura. Fique atento para os que falam com os ombros caídos, os olhos e as mãos irrequietas.

Assim como você pode ler as entrelinhas de um texto, pode ouvir coisas entre as frases de uma conversa corriqueira, banal, que somente o coração pode ouvir. Não raro, há angústia e desespero disfarçados, insegurança escondida em palavras ásperas, solidão fantasiada na tagarelice.

Aos poucos estou aprendendo a amar, e amando estou aprendendo a perdoar.

Perdoando, apago as mágoas e curo as feridas, sem deixar cicatrizes nos corações magoados e tristes.

Aprendo com a vida o valor de cada vida e procuro entender os rejeitados, os incompreendidos.

Nem sempre consigo, mas estou tentando.

Quanto a nós, vamos tentar construir a paz, sem desânimo, com muito amor, muito amor no coração.


Amilcar Del Chiaro Filho no livro "A Minha Paz Vos Dou...



sábado, 9 de agosto de 2008

Sobre o meu pai Arthur

"Seu olho verde faiscava de brabeza ou transbordava de afeto. O rumor de seu passo no corredor botava o meu mundo em ordem. Sua risada era aberta e franca, seu abraço era cálido, sua alegria, generosa"

Nesta coluna homenageio meu pai Arthur, que morreu quando eu tinha 35 anos, e de quem, 35 depois, ainda recordo todos os dias, pelo seu legado de carinho, justiça, integridade e proteção, que até agora me dá força quando preciso dela (preciso muitas vezes). As propagandas em torno do Dia dos Pais, se irritam pela comercialização (para quem deseja isso) em torno do afeto, servem de lembrete a quem anda esquecido do seu pai.

Então tenho lembrado com mais intensidade do meu, que era severo e terno. Seu olho verde faiscava de brabeza ou transbordava de afeto. O rumor de seu passo no corredor botava o meu mundo em ordem. Sua risada era aberta e franca, seu abraço era cálido, sua alegria, generosa. Tinha momentos de melancolia, em que fitava um ponto distante longo tempo sem falar. Seu amor pela família foi talvez seu traço mais marcante. Ensinou-me o nome das árvores do jardim e os cuidados com elas, para que dessem frutas doces. Transmitiu-me a noção do sagrado das coisas e das pessoas. Gostava de tranqüilidade, meu pai Arthur. Recusou sistematicamente os convites para deixar nossa pequena cidade e assumir cargos importantes. Era atento e compreensivo, ajudou fugitivos da II Guerra, levava cobertores ou remédio aos pobres, aconselhava amigos e desconhecidos que vinham lhe pedir orientação. Lembro-me do que relatou alguém que o procurou em casa, e ele, interrogado sobre sua vasta biblioteca, apontou os livros e disse com simplicidade: "Eles são meus amigos".

Era também exigente, meu pai Arthur. Aborrecia-se com meu boletim invariavelmente medíocre, porque eu não gostava de estudar: queria ficar em casa, lendo em meu quarto ou debaixo de alguma árvore, e achava as regras de disciplina da escola antes cômicas do que respeitáveis. Além de negligente na escola, em casa não conseguia ser a menina prendada que minha mãe desejava.

Não podia competir com suas sobrinhas ou filhas de amigas, num tempo em que ser prendada era importante (para mim, era bobagem): meus bordados saíam tortos, minha incapacidade de arrumar a cama era patética, meu horror à cozinha era vergonhoso, eu respondia mal à minha mãe, ou lhe mostrava a língua. Era um desastre, e me sentia assim. Quando as queixas de mãe e professores se tornaram excessivas, ele me pôs num internato. "Para o seu bem", ele disse. Não esqueço a dor daquele dia e dos outros, nem a minha gratidão quando, dois meses depois, em uma visita, anunciei que se ele não me tirasse dali eu morreria, e ele me levou para casa. Por essa, e tantas outras coisas, dediquei-lhe especialmente um de meus livros, dizendo: "A meu pai Arthur, para quem eu não era só uma criança: eu era uma pessoa". Ainda falo com ele, recorro a ele em minhas aflições, pedindo que, como fez em vida, me ajude em minhas trapalhadas. (Não sei como, mas ele ajuda.)

Nele, antecipando o Dia dos Pais que se aproxima, homenageio todos os pais que não vão ter o carinho dos filhos pequenos ou adultos, nem um telefonema alegre, nem um almoço ruidoso, nem mesmo um recado. Homenageio os pais que ficarão sozinhos fingindo que não faz mal, que filho é assim mesmo, que a vida é assim. Não é assim. Em meu pai Arthur, homenageio os pais que não puderam estar sempre junto de seus filhos porque, longe, precisavam garantir o seu sustento; que foram relegados quando não tinham mais dinheiro ou saúde; criticados quando quiseram buscar alguma felicidade; ou que, sem entender, foram declarados dispensáveis e desimportantes.

Não posso esquecer aqui aqueles pais que perderam um filho ou filha, na dor que não se cura com nada. Mas penso também nos pais alegres, nos pais carinhosos, nos pais protetores, parceiros, guerreiros, nos pais que têm sorte, e que nesse dia especial receberão abraços, telefonemas, torpedos, churrascos, conversas, sorrisos ou mesmo um bilhete em letra infantil – como aqueles que tantas vezes, na minha distante infância, deixei no bolso do paletó ou no prato do café-da-manhã de meu pai Arthur.

Lya Luft é escritora

sexta-feira, 1 de agosto de 2008

"A BELEZA SALVARÁ O MUNDO"

Conta-nos Alexandre Soljenitsyne que levou algum tempo a tentar perceber esta frase enigmática que, um dia, Dostoïevski deixou cair: "A beleza salvará o mundo".

Interpretou-a finalmente como
querendo significar que a beleza da arte, sobretudo da literatura, acabará por fascinar o mundo e convencê-lo da necessidade de refletir e de pôr em prática a profunda defesa dos valores da dignidade humana, sobretudo da verdade e da justiça, que os grandes autores sempre deixam inscrita no seu legado literário.

Recentemente, li a notícia de que as universidades americanas, conscientes do erro cometido por darem a primazia às tecnologias e à investigação do universo material, iam voltar ao estudo do humanismo, privilegiando o conhecimento da filosofia e da literatura.

Se refletirmos um pouco sobre o que é hoje a civilização ocidental, não será difícil chegar à conclusão do modo como a realidade material submerge a realidade espiritual.

A civilização do prazer e do lucro sobrepõe-se ao sacrifício de lutar contra as mentiras e os engodos de fanáticos e de oportunistas.

Soljenitsyne, que sofreu no corpo e na alma os horrores das massificações e das ilusões da luta de classes que, criando falsas utopias arrasaram, e continuam a arrasar, milhões de seres, preveniu-nos, com lucidez, contra os novos monstros que se transformam facilmente em degradação humana, genocídios, ditaduras cruéis, anulação do indivíduo.

Roger Martin du Gard publicou uma obra, "O Verão de 1914", em que alertava para a atmosfera angustiante que se viveu na Europa antes da mobilização para a 1.ª Grande Guerra Mundial, face à fraqueza dos governos de então, às suas hesitações, às suas indiscrições, às suas ambições inconfessáveis com a cumplicidade passiva das massas que acabariam por sofrer na pele os horrores que se seguiram (nove milhões de mortos e dez milhões de estropiados).

Mas, o homem, que continuou sem meditar a literatura, copiou os mesmos erros e desencadeou a 2.ª Guerra Mundial, com conseqüências mais gravosas ainda, teimando, no presente, em alimentar outros horrores um pouco por todo o mundo.

E continuamos sem ler nem apreciar a beleza da arte.

Assistimos à cavalgada do materialismo e à degradação cada vez mais abjeta da humanidade, com seu cortejo de obscenidades. Basta-nos referir o que se passa nas nossas televisões com as telenovelas e seus conteúdos mentirosos e outros programas ridículos de má língua, noticiários (!) incluídos, para percebermos o que é a concessão ao que de mais baixo e vil existe no homem desde o tempo das cavernas e que leva as novas gerações aos himalaias do gozo selvagem.

Num mundo sem literatura, não me espanta que continuemos indiferentes aos vários horrores que se vão repetindo, de que, o exemplo mais vivo e recente, é o do Zimbabwe, perante a covardia, a indiferença, a fraqueza e a inoperância de governos incompetentes, ignorantes da história, insensíveis aos valores humanos, hesitantes na defesa da dignidade humana.

Um mundo sem beleza é um mundo perdido, sem verdade nem justiça nem sentido. Alimentar a espiritualidade é libertar o Homem.

Resta-nos a esperança de que um próximo pesadelo acorde os políticos e os alerte para a urgente necessidade de reintroduzir nas escolas o estudo dos autores universais para que se cumpram as palavras de Dostoïevski e "a beleza acabe por salvar o mundo", destruindo a covardia e o medo.

Leonel Marcelino

Fontes:
http://www.regiao-sul.pt/noticia.php?refnoticia=86097
http://groups.google.com.br/group/sapientiae

OBSERVAÇÃO

Todas as matérias, links e arquivos que se encontram no site, estão hospedados na própria Internet e somente indicamos onde se encontra. Não hospedamos programas que seja de distribuiçao ilegal.
Matérias protegidas por direitos autorais conterão referências às fontes de origem, caso sejam identificadas.
Os donos, webmasters e qualquer outra pessoa que tenha relacionamento com a produção do site não tem responsabilidade alguma sobre os arquivos que o usuario venha a baixar e para que irá utiliza-los.